sábado, 8 de novembro de 2014

Ruínas - Letícia Araujo




Amei, amei sim – meu único e grande erro ! 
Amei o quanto, onde e quando pude amar. 
Vitória dos desencantados – saber que ao menos pude amar. 
Até onde, quando e o quanto pôde minha alma ! 
Reabro agora um álbum de imagens distantes – no tempo. 
Próximas no coração. 
Fotos em cores vivas de um passado feliz. 
Eu, que agora me revelo num presente desbotado – em preto & branco. 
Abro os álbuns de lembranças antigas e recentes.
Passado em cores; presente em cinzas. 
Tais cinzas nos desmascaram agora, 
Como medíocres e pálidos restos do que fomos, 
Como as ruínas de um castelo que antes foi esplendor. 
Como um lar antigo cujas paredes que restaram, não guardam mais segredos. 
Entre esses restos, em tais escombros, nos esgueiramos, 
Sombras tristes, agora fogem, talvez de si mesmas. 
Tentativa vã ? fugir do amargo presente que construímos. 
É tarde. Para nós o pêndulo parou - o tempo estanca ! 
Em minhas veias se esvai a vida. 
Num soluço, sussurro adeus. 
...e amei tanto; tanto ! 
Até onde, quando e quanto (não) podia, amei ! 
Levo comigo sua melhor lembrança.
Guarde de mim fotos nas cores de um passado feliz. 
Esqueça o ser que agora estertora. 
Se possível, renasça, ressurja ! 
Não creio que comigo seja possível isso. 
Mas recomece se puder. 
De mim restam imagens de um passado colorido. 
...e escombros de um presente em cinzas.

sábado, 25 de outubro de 2014

sábado, 19 de julho de 2014

Uma noite na ópera



Os pais de Mauricio Araujo no teatro Santa Izabel, em Recife.
Ano: 1968
Na noite de uma apresentação de uma ópera de Verdi.


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Um Poema para Janis

"Ao mar, que também era bom, entregou as suas cinzas" 
 ("A Semente" - Benito Araujo)





Se possível não vá ! 
Em nenhuma outra dimensão te acolherás a não ser em nossas almas; 
Nelas ainda vibrarão tua voz, teus registros. 
Demora-te mais um pouco ! 
A morte te rouba o corpo! não apenas ele, mas também nossa juventude. 
Vem ela em busca de nossos sonhos, despedaçando-os, 
Mas não diz a morte o quanto te amamos e quanto ainda te queríamos. 
Fica de ti um vazio imenso, um fosso em teu lugar ! 
Sem sepultura, teu corpo tornado em cinzas flutuará nas águas de alguma praia, 
Mas nas águas tristes das lembranças vagaremos à tua procura como barco impelido por vento feroz. 
Se pudesse, eu não te deixaria ir tão cedo, 
Se pudesse impedir tua queda nos braços da eternidade, 
Nos meus braços tu continuarias, se eu pudesse ! 
Deteria a porta que se abre ampla para dimensões outras, 
Tu não transporias agora os umbrais do além túmulo ! Eu não deixaria, se pudesse! 
Se possível, não vá ! 
Não agora, ainda haveria tempo para mais algumas canções. 
Em nossa juventude vibrou tua voz, 
Ecoa agora no vazio triste das memórias o que de tão bom perdemos de ti. 
A saudade é uma mortalha miserável e temos que vesti-la. 
E nesta impossibilidade de trazê-la de volta, peço: 
Não esqueças nunca dos olhares que foram atraídos pelos teus, 
Dos amores – assumidos ou reprimidos – que o teu despertou 
Naqueles dias quentes que não morrerão jamais. 
Com o Sol que insiste em nascer cada dia, 
Brilha um mundo que guardará tua lembrança. 
Além das paredes deste quarto tua imagem permanecerá. 
Enxuga minhas lágrimas, pois que eu te enxugarei o sangue nos lábios. 
Tanto faríamos! 
Te levaria para fora deste hotel - para meu lar. 
Um violão e LPs seriam nossos companheiros. 
Em tua veia corria música – não deverias ter injetado qualquer outra substancia. 
Alma inquieta ! Tu te perdestes em fantasias. 
E agora, o que pagará por tua falta ? O dinheiro que ficou em tua mão ? 
Bom, se não posso mesmo impedir teu retorno prematuro ao além, 
E em definitivo nos desencontramos no quarto deste hotel, 
Ficamos, nós que ainda te amamos, ouvindo-te no íntimo de nossas almas, 
Como em uma última cantilena.
E nas águas que lambem a areia de nossa praia mais querida 
Se perderão as cinzas de nossa mais querida cantora. 
Até breve ! 

 (Janis Joplin foi encontrada morta caída no assoalho de um quarto de hotel, com os lábios ensanguentados e 4 dolares e 50 centavos na mão – morte extantânea por overdose de heroína. Seu corpo foi cremado e suas cinzas espalhadas no mar de uma praia californiana)