Dissecaram minha carne
E entre nervos e vasos
Esqueceram minha alma
Fui cortado e degolado
Não senti dor
Não gemi, não gritei
Passivo em minha matéria,
Ensinei
Desfigurado pelo formol
Ainda servi.
Nunca em minha vida indigente
Fui tão cortejado;
Nunca quando doente
Tão assistido.
Não tenho nome, tenho número.
Sou uma peça.
Sou na morte, a vida que resta
Sou do fim o grande começo.
De: Suzana Azoubel
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