quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Homenagem ao cadáver desconhecido (Suzana Azoubel)





Dissecaram minha carne
E entre nervos e vasos
Esqueceram minha alma

Fui cortado e degolado
Não senti dor
Não gemi, não gritei
Passivo em minha matéria,
Ensinei
Desfigurado pelo formol
Ainda servi.

Nunca em minha vida indigente
Fui tão cortejado;
Nunca quando doente
Tão assistido.
Não tenho nome, tenho número.
Sou uma peça.
Sou na morte, a vida que resta
Sou do fim o grande começo.

De: Suzana Azoubel

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